CARANDIRU.DOC
APRESENTAÇÃO
O Carandiru, como ficou conhecido o Complexo Carcerário da Casa de Detenção, o maior da América Latina, será desativado até maio de 2002.
Para esse fim, quase oito mil presos serão transferidos para presídios espalhados por todo Estado de São Paulo numa verdadeira e secreta operação de guerra. Após o esvaziamento integral dos sete pavilhões, a construção será inteiramente implodida.
Por outro lado, Hector Babenco, o conhecido diretor de “Pixote, a Lei do Mais Fraco” e “O Beijo da Mulher Aranha”, estará realizando o longa-metragem “Carandiru”, baseado no bestseller brasileiro do médico Dráuzio Varella, nas próprias dependências do Carandiru, exatamente nos dias de seu esvaziamento.
A pesquisa para o livro e para o filme envolveu testemunhos de presos e ex-detentos e ampla pesquisa do cotidiano penitenciário. Dráuzio Varella desenvolveu um importante e inédito trabalho de prevenção da AIDS na Casa de Detenção.
Este projeto tem como objetivo a realização de um documentário que investigará o processo final da vida do Carandiru (o cotidiano dos últimos dias, as memórias de crimes e acontecimentos, as opiniões divergentes e conflituosas sobre a desativação) no momento exato em que está sendo realizado o longa-metragem ficcional de Hector Babenco.
CONTEXTO
Além da preemência dos acontecimentos, a desativação do Complexo Carandiru, este filme tem a oportunidade única de realizar uma investigação criativa sobre o processo de construção de um filme ficcional baseado num contexto real.
Muitos documentários tornaram-se referências importantes sobre o “fazer cinematógráfico”, como “Heart of Darkness” que Eleonor Coppola fez sobre o filme “Apocalipse Now”, de Francis Ford Coppola, e o filme de “Les Blank” sobre as filmagens de “Fitzcarraldo”, dirigido por Werner Herzog.
“Carandiru.doc” pretende ter este mesmo olhar atento e revelador sobre o filme “Carandiru”. Será como uma janela aberta e priviligiada que desvendará para o público este processo de ficcionalização da realidade que o cinema realiza.
HECTOR BABENCO é um diretor de prestígio nacional e internacional, cuja maneira sempre contundente e profunda de ver o mundo tem proporcionado ao público, filmes inigualáveis.
Este é o quarto filme em que HECTOR BABENCO localiza sua trama dentro das paredes de uma prisão. Foi assim em “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, “Pixote, a Lei do Mais Fraco” e “O Beijo da Mulher Aranha”. Desvendar para além das implicações concretas e realistas, a simbologia do universo carcerário será um dos enfoques principais deste documentário.
DRÁUZIO VARELLA, além de seu trabalho e reconhecimento na oncologia e medicina preventiva, logrou escrever um livro humano e revelador sobre o universo complexo e polêmico do maior presídio do país, o Carandiru. Um livro que escancarou as frestas do secreto universo das cadeias.
CARANDIRU, Casa de Detenção, um lugar de crueldade, de restos humanos, de violência, de exceção? Um lugar secreto e proibido, mas tão estranhamente próximo de todos nós? Mergulhar no filme será conhecer a vida e a morte dentro daquelas paredes. Entender o silêncio e os gritos atrás dos portões tão cerrados.
Além da credibilidade e excelência dos nomes envolvidos e da importância do tema, a justificativa deste projeto se fundamenta, sobretudo, na oportunidade de refletir sobre a realidade carcerária.
O DOCUMENTÁRIO E A FICÇÃO
Sabemos que o documentário tem como dado característico ser sensível à transformação dos fatos (da realidade): ver as coisas e pessoas, com os olhos limpos, sem recuo ou resgate. E que a ficção se constrói e estabelece suas regras através da obsessiva compulsão do diretor de tentar dar destino aos fatos e personagens, se prendendo à evolução do que ele filma.
Hoje o cinema contemporâneo se apropriou do que é documentário e do que é ficcional, utilizando elementos de cada uma dessas linguagens, a fim de destacar e sacralizar as imagens e sensações da realidade.
A oportunidade de se fazer este documentário sobre o Carandiru, no momento de seu fim e enquanto se está realizando um filme de ficção sobre ele, com certeza, descortinará para o espectador uma visão privilegiada de como todas estas questões e conflitos interagem na construção da realidade e do filme.
É através do material documental do Carandiru e do material ficcional (cenas do filme de Hector Babenco) que as relações entre o que é documentário e o que é ficcional, e as verdades contidas nestes dois tipos de imagens, se interagirão. Às vezes em plena combinação, outras vezes em contraposição.
Aqui é interessante destacar que não pretendemos estabelecer uma discussão definitiva sobre os problemas e questões do sistema presidiário nacional, mas sim mergulhar no universo humano do presídio, literariamente tão bem dissecado no livro de Dráuzio Varella.
Assim, ao mesmo tempo, o complexo Carandiru será o lugar onde acontece esta história e o personagem principal deste documentário.
Cenas
GALERIA DE FOTOS
FICHA TÉCNICA
EQUIPE PRINCIPAL
DIREÇÃO Rita Buzzar
ROTEIRO Rita Buzzar
PRODUÇÃO EXECUTIVA Rita Buzzar
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO Daniel Santiago
DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA E CÂMERA Tatiana Lohmann/ Adrien Cooper/ Aloysio Raulino
EDIÇÃO Rogério Zagallo e Rita Buzzar
TRILHA SONORA Felipe Vassão
FINALIZAÇÃO Marcelo Pedrazzi / Alexandre Rocha